No final de 2013 a revista científica Interdisciplinary Toxicology (do Instituto de Farmacologia Experimental da Academia Eslovaca de Ciências) publicou um artigo que coloca em questão a verdadeira
origem da chamada doença celíaca – uma doença autoimune, cujos efeitos são precipitados pelo consumo de alimentos contendo glúten.
Segundo os autores do artigo, intitulado “Glifosato, caminhos para doenças modernas II:, a intolerância ao glúten tem crescido de forma epidêmica nos EUA e, a cada vez mais, também no mundo. Estima-se que atualmente cerca de 5% da população dos EUA e da Europa sofram desse mal.
Os pesquisadores sugerem que o glifosato, o ingrediente ativo do herbicida Roundup, pode ser o principal fator causador dessa epidemia.
Um estudo recente relatado no artigo demonstrou que peixes expostos ao glifosato desenvolvem problemas digestivos semelhantes à doença celíaca. Segundo os autores, a doença celíaca está associada a desequilíbrios em bactérias do intestino que podem ser completamente explicadas pelos efeitos conhecidos do glifosato sobre as bactérias do intestino.
Características da doença celíaca incluem a diminuição de muitas enzimas citocromo P450, que atuam na desintoxicação de toxinas ambientais, na ativação da vitamina D3, na catabolização da vitamina A e na manutenção da produção dos ácidos biliares e de fontes de sulfato para o intestino.
Os pesquisadores relatam então que resíduos de glifosato no trigo e em outras culturas tem crescido significativamente nos últimos anos devido à prática da dessecação das lavouras com o veneno para facilitar a colheita, o que tem aumentado a exposição da população ao veneno através da alimentação.
Chamam ainda a atenção para o fato de que, desde 2001, o uso do glifosato na agricultura aumentou exponencialmente em função da difusão das lavouras transgênicas Roundup Ready, tolerantes à aplicação do produto. O veneno é hoje o herbicida mais utilizado no mundo, sobretudo em função de sua suposta baixa toxicidade e do preço que se tornou baixo depois que a patente do produto expirou e marcas genéricas passaram a ser comercializadas.
Em suma, os autores do artigo desenvolvem e fundamentam o argumento de que o alarmante aumento da incidência da doença celíaca nos EUA e no resto do mundo nos anos recentes é devido ao aumento no uso de herbicidas na agricultura e, em especial, ao aumento da exposição da população ao glifosato através dos resíduos presentes nos alimentos.
Eles concluem com um apelo aos governos para que revejam suas políticas com relação à segurança dos resíduos de glifosato nos alimentos.