Melatonina: uma nova arma contra o câncer
Ao tratar com melatonina células metastáticas de câncer de mama cultivadas in vitro, pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) observaram uma redução em torno de 55% na capacidade de migração e invasão celular. Experimentos feitos com camundongos mostraram que o tratamento também é capaz de diminuir a progressão da doença in vivo.
Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram divulgados no Journal of Pineal Research.
O que é Melatonina?
A melatonina é um hormônio secretado naturalmente pela glândula pineal, localizada no cérebro, e participa da regulação do ciclo de sono e vigília em todos os mamíferos. Estudos recentes têm mostrado que ela também ajuda a regular outros importantes processos, como pressão arterial, ingestão alimentar, gasto energético, síntese e ação da insulina nas células.
O objetivo da pesquisa é entender por meio de quais mecanismos a melatonina atua, pois isso pode favorecer novas abordagens terapêuticas contra o câncer.
Pesquisa
As células metastáticas de câncer de mama humano foram injetadas na veia da cauda de camundongos, que então foram divididos em três grupos. O primeiro recebeu durante duas semanas injeções intraperitoneais de melatonina. O segundo recebeu durante o mesmo período injeções de uma substância chamada Y27632, capaz de inibir a síntese da proteína ROCK-1. O último grupo recebeu apenas placebo.
Após o término do tratamento os animais foram avaliados por uma metodologia conhecida como tomografia por emissão de pósitrons (SPECT, na sigla em inglês).
O grupo tratado com melatonina apresentou 40% menos metástase que o grupo placebo. Nos animais que receberam o inibidor de ROCK-1 a redução foi de 58%.
Em um outro experimento, animais tratados com melatonina durante cinco semanas apresentaram 25% menos metástase que o grupo que recebeu placebo. Neste caso não foi usado inibidor de ROCK-1.
Ainda segundo a pesquisa, ao comparar o tecido pulmonar dos grupos tratados com melatonina e com Y27632, notou-se que, no primeiro, o tumor estava mais localizado e o tecido pulmonar, mais bem preservado.
Nos experimentos in vitro, observou-se que a melatonina reduz em 50% a expressão de ROCK-1 e em 55% a capacidade de migração e invasão das células tumorais. A substância também inibiu a viabilidade e a proliferação das células em cultura.
Atualmente, a pesquisadora está investigando como a melatonina pode modular a ação de certos microRNAs – pequenas moléculas de RNA que não codificam proteínas, mas regulam a expressão dos genes codificadores – que normalmente estão superexpressos nas células metastáticas.
Futuro: Testes em Humanos
Também estão previstas, a realização de ensaios clínicos com pacientes portadores de câncer de mama que não respondem a outros tratamentos. Os resultados podem auxiliar numa chance de recuperação sem muito sofrimento para as mulheres que são as maiores vítimas dessa doença.
O artigo Melatonin decreases breast cancer metastasis by modulating ROCK-1 expression (doi: 10.1111/jpi.12270)