Por muito tempo, os adoçantes artificiais substituíram o açúcar de modo perfeito, prometendo caloria zero e sabor doce.
Mas, recentemente, pesquisas envolvendo esses produtos estão relacionando o uso deles com o aumento do peso corporal. Afinal, os adoçantes engordam mesmo apresentando valores calóricos mínimos ou até zero? E será que fazem mal à saúde?
A fisiologia cerebral
O cérebro controla a sensação de saciedade por meio de uma cascata de estímulos específicos, a qual tem início nas papilas gustativas da língua, que transmitem informações através dos nervos cranianos para várias regiões cerebrais, até chegarem ao córtex gustativo primário. A partir daí, projeções são enviadas para setores ligados à principal via de recompensa cerebral, que liberam a dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer. Esse sistema de recompensa alimentar tem um papel crítico na regulação do comportamento alimentar e no controle da quantidade de calorias absorvidas pelo organismo.
Cada vez mais, cresce o número de evidências sugerindo que os adoçantes artificiais não ativam os mecanismos de recompensa alimentar da mesma maneira que o açúcar. A ressonância magnética em homens com peso normal mostrou que a ingestão de glicose resulta numa depressão prolongada de sinal no hipotálamo, isto é, na queda do estímulo no centro da fome e da saciedade, o que não foi identificado com o adoçante artificial sucralose. Isso quer dizer que uma resposta hipotalâmica cerebral de saciedade requer tanto sabor doce quanto conteúdo de energia. Assim, alguns trabalhos têm indicado o aumento do apetite com o uso de alguns adoçantes artificiais, sugerindo que a ingestão calórica total não seria alterada com a utilização desses produtos.
Estudo brasileiro preliminar feito com os edulcorantes sacarina e aspartame teve resultados de ingestão calórica semelhantes entre os ratos alimentados com adoçantes e os alimentados com açúcar. O primeiro grupo apresentou maior ganho de peso. Os pesquisadores explicaram que isso ocorreu porque os adoçantes artificiais poderiam induzir um menor dispêndio de energia ou um aumento da retenção de líquidos. O estudo foi publicado na edição de janeiro de 2013 da revista científica internacional “Appetite”, da rede Elsevier.
Pode-se comer mais um produto sem caloria?
Será que a substituição de um refrigerante comum por um diet libera a pessoa para comer depois uma fatia de bolo de chocolate? Não. Essa percepção equivocada é chamada pelos psicólogos de distorção cognitiva, que pode ser facilitada pela ingestão de adoçantes artificiais. Swithers, autor do estudo “High-intensity sweeteners and energy balance”, publicado em 2010 na revista “Physiology & Behavior”, afirma que tanto a psicologia quanto a fisiologia do indivíduo que utiliza os adoçantes podem ser atingidos por eles.
Trocar a sacarose por adoçantes dietéticos poderia não afetar o controle do apetite, uma vez que esse comportamento se relaciona a uma compensação alimentar devido à influência nos níveis de saciedade. O aspartame, por exemplo, pode inibir o apetite, efeito que mostra que nem todos os adoçantes apresentam a sensação de exacerbação por conta da liberação de um metabólito. Por outro lado, a ingestão do mesmo adoçante pode diminuir o prazer provocado pelo sabor adocicado, o que aumenta o desejo por doces e carboidratos, intensificando o apetite e, consequentemente, a absorção de energia e o possível ganho de peso.
Fonte: revista “Essentia Pharma” (edição 9) – http://essenti